❧ Todo dia, a senhora assistia religiosamente às pessoas caminharem. Passava as manhãs, as tardes e as noites sentada no mesmo banco. Só não aparecia quando chovia. Nos últimos tempos, os altos prédios ao redor da praça não permitiam a iluminação do sol alcançá-la diretamente como antes. Era um lugar bem frequentado, o movimento era constante. Todos iam lá para fugir das obrigações do dia a dia. Algumas pessoas corriam, outras passeavam com seus cachorros e algumas levavam suas crianças ao parquinho. A senhora reconhecia cada rosto ali de tanto vê-los. Arriscaria dizer que até mesmo sabia o nome de metade delas. Não muito longe dali, no parquinho infantil de brinquedos velhos reformados de madeira, um garoto chupava um picolé roxo de uva. Ao seu lado, uma escultura elaborada esperava para ser finalizada em meio a baldes e pás. As árvores baixas balançavam suas folhas na mesma direção do corredor de vento formado...