Raimundinho
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A história que eu vou contar agora é do meu irmãozinho mais novo, é da época que vocês não tinham nem nascido ainda. Tenho boa lembrança desses dias. O nome dele era Raimundo. O garoto miúdo era muito querido da família. Desde que o pequeno nasceu, recebeu uma atenção especial, sabe? Eles diziam que ele tinha um coração fraco, mas não sei contar exatamente o que era, ninguém sabia na verdade, nem mesmo os médico da família. A gente só sabia que ele não ia viver muito tempo. E a vida dele não podia ser agitada. Ele sempre frequentava um monte médicos e vivia cercado de cuidado por todo mundo. Não corre, Raimundinho! A mamãe falava. Você não pode jogar com as outras crianças! Mandava o irmão mais velho. Dava uma dor no coração... mas precisava. De toda a família, Raimundinho gostava mesmo era do pai. Era um apego especial, ele era o favorito do pai também. Onde o pai ía, Raimundinho ía atrás todo feliz. Nem por isso a gente tinha inveja dele não, a família toda amava o menino de um jeitinho especial. Raimundinho era o centro das atenções. Raimundinho pra cá, Raimundinho pra lá. A única coisa de esquisito na condição dele era que a criança não podia chorar de jeito nenhum. Foi o que o médico disse, o coração não tinha força pra aguentar se ele chorasse. Pobre Raimundinho! Quando o pai ia trabalhar, Raimundinho sentava no degrau da porta e olhava lá pra longe na rua esperando que ele fosse voltar. Ficava todo murcho o menino. Fazia que ia chorar e a mãe corria pra distrair o pequeno Raimundinho. Toda tarde era assim. E quando o pai finalmente voltava, ah! Era só a felicidade! O menino sabia que o pai só ia voltar no final da tarde e mesmo assim passava o dia todo esperando querendo que ele chegasse em casa logo. E como ele não podia ficar ansioso nem chorar, a gente tinha que manter um olho no Raimundinho. Mas não quero que vocês pensem que era cansativo pra gente não. A gente adorava cuidar do miúdo. Se ele tava feliz, a gente também tava. Não tinha muita dificuldade não, mas teve uma vez que não teve outro jeito. O pai ia viajar a trabalho. A viagem era uma daquelas que não dá pra recusar, sabe? Ele não podia perder o emprego, tinha uma família e um filho doente pra sustentar. Na verdade, ele não queria ir não, e não queria ir porque ia ter que ficar longe do menino Raimundo por uns dias. Como não tinha o que fazer, a ideia era explicar pro miúdo a situação. Nada de explicação difícil, coisa simples. O menino tinha poucos dias pra entender. Papai vai viajar por três dias, filho. Mas ele vai voltar, tá bom? O pai repetia toda noite a mesma coisa pra ele. Vai pra onde papai? Não vai, por favor. Respondia. Não se preocupa que o papai volta. Prometia. Não demorou pra chegar o dia da viagem. Raimundinho fez igual todo dia, foi esperar o pai na frente da casa. Quando a noite chegou e o pai ainda não tava em casa, Raimundinho ficou acabado. Não entendeu onde tava o pai. Começou a ficar desesperado, o pai tinha ido embora e não voltou. Mas a mãe conseguiu manter ele calmo, pelo menos por um dia. O problema foi o segundo dia, quando Raimundinho acordou e não encontrou o pai em casa. Foi quando não teve mais volta, começou a chorar. A gente ficou tudo afobado pra acalmar o menino, mas nada adiantava. Chorou e chorou, até que seu coraçãozinho cansou, cedeu pra morte. Aí a gente chorou, a gente amava o garoto. Mas quem ficou mais triste de todo mundo, foi o pai. Quando voltou da viagem, tudo que ele queria era ver o filho que tanto amava, mas tudo que ele achou foi luto. Nunca vou me esquecer de como o ânimo dele sumiu de uma hora pra outra. Foi só ele chegar em casa e ver a gente chorando que ele entendeu o que tinha acontecido e começou a chorar também. Foi o choro mais triste que já ouvi. A casa ficou triste por um bom tempo. Descanse em paz, Raimundinho.
A história que eu vou contar agora é do meu irmãozinho mais novo, é da época que vocês não tinham nem nascido ainda. Tenho boa lembrança desses dias. O nome dele era Raimundo. O garoto miúdo era muito querido da família. Desde que o pequeno nasceu, recebeu uma atenção especial, sabe? Eles diziam que ele tinha um coração fraco, mas não sei contar exatamente o que era, ninguém sabia na verdade, nem mesmo os médico da família. A gente só sabia que ele não ia viver muito tempo. E a vida dele não podia ser agitada. Ele sempre frequentava um monte médicos e vivia cercado de cuidado por todo mundo. Não corre, Raimundinho! A mamãe falava. Você não pode jogar com as outras crianças! Mandava o irmão mais velho. Dava uma dor no coração... mas precisava. De toda a família, Raimundinho gostava mesmo era do pai. Era um apego especial, ele era o favorito do pai também. Onde o pai ía, Raimundinho ía atrás todo feliz. Nem por isso a gente tinha inveja dele não, a família toda amava o menino de um jeitinho especial. Raimundinho era o centro das atenções. Raimundinho pra cá, Raimundinho pra lá. A única coisa de esquisito na condição dele era que a criança não podia chorar de jeito nenhum. Foi o que o médico disse, o coração não tinha força pra aguentar se ele chorasse. Pobre Raimundinho! Quando o pai ia trabalhar, Raimundinho sentava no degrau da porta e olhava lá pra longe na rua esperando que ele fosse voltar. Ficava todo murcho o menino. Fazia que ia chorar e a mãe corria pra distrair o pequeno Raimundinho. Toda tarde era assim. E quando o pai finalmente voltava, ah! Era só a felicidade! O menino sabia que o pai só ia voltar no final da tarde e mesmo assim passava o dia todo esperando querendo que ele chegasse em casa logo. E como ele não podia ficar ansioso nem chorar, a gente tinha que manter um olho no Raimundinho. Mas não quero que vocês pensem que era cansativo pra gente não. A gente adorava cuidar do miúdo. Se ele tava feliz, a gente também tava. Não tinha muita dificuldade não, mas teve uma vez que não teve outro jeito. O pai ia viajar a trabalho. A viagem era uma daquelas que não dá pra recusar, sabe? Ele não podia perder o emprego, tinha uma família e um filho doente pra sustentar. Na verdade, ele não queria ir não, e não queria ir porque ia ter que ficar longe do menino Raimundo por uns dias. Como não tinha o que fazer, a ideia era explicar pro miúdo a situação. Nada de explicação difícil, coisa simples. O menino tinha poucos dias pra entender. Papai vai viajar por três dias, filho. Mas ele vai voltar, tá bom? O pai repetia toda noite a mesma coisa pra ele. Vai pra onde papai? Não vai, por favor. Respondia. Não se preocupa que o papai volta. Prometia. Não demorou pra chegar o dia da viagem. Raimundinho fez igual todo dia, foi esperar o pai na frente da casa. Quando a noite chegou e o pai ainda não tava em casa, Raimundinho ficou acabado. Não entendeu onde tava o pai. Começou a ficar desesperado, o pai tinha ido embora e não voltou. Mas a mãe conseguiu manter ele calmo, pelo menos por um dia. O problema foi o segundo dia, quando Raimundinho acordou e não encontrou o pai em casa. Foi quando não teve mais volta, começou a chorar. A gente ficou tudo afobado pra acalmar o menino, mas nada adiantava. Chorou e chorou, até que seu coraçãozinho cansou, cedeu pra morte. Aí a gente chorou, a gente amava o garoto. Mas quem ficou mais triste de todo mundo, foi o pai. Quando voltou da viagem, tudo que ele queria era ver o filho que tanto amava, mas tudo que ele achou foi luto. Nunca vou me esquecer de como o ânimo dele sumiu de uma hora pra outra. Foi só ele chegar em casa e ver a gente chorando que ele entendeu o que tinha acontecido e começou a chorar também. Foi o choro mais triste que já ouvi. A casa ficou triste por um bom tempo. Descanse em paz, Raimundinho.
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